Professor é desvalorizado pelos governos e pela própria sociedade

Postado por: Tatiana Dornelles

Ser professor, nos dias atuais, não é tarefa nada fácil. Diria mais: não é atividade para qualquer um. Somente quem está dentro de uma sala de aula, muitas vezes com 35 alunos, sabe das dificuldades encontradas: grande parte dos estudantes não quer aprender, não se esforça, não demonstra interesse nas aulas, não copia conteúdos, não faz atividades e nem estuda para provas. O resultado? Notas baixas ou reprovações no fim do ano.

Com as notas baixas, surgem as reclamações dos pais na escola – porque a maioria passa a mão na cabeça do filho – e a culpa é sempre do professor. Sem contar os desaforos (por vezes, palavrões) que o docente ouve de crianças e jovens, e depois dos próprios pais – e a educação tem que vir de casa, lembre-se disso! A escola e, principalmente, o professor estão ali para transmitir conhecimento e fazer esse trabalho tem se tornado um martírio.

Quantos casos de agressão a professores vimos nos últimos anos? E neste ano? Quantas chacinas em unidades escolares? E estou falando dos fatos mais graves, que aparecem na mídia. Mas você tem ideia de quantas vezes um docente é ou se sente ameaçado por pais e alunos? Olha, nem dá para contar nos dedos.

Algumas manchetes de portais sobre agressões e ataques a professores por alunos e pais

Diante de tanto descaso e devido ao desinteresse dos alunos, a saúde do docente é prejudicada. Estudos demonstram que profissionais da educação são os que mais sofrem com doenças mentais. O mais recente, publicado no livro “Seminários Trabalho e Saúde dos Professores. Precarização, Adoecimento e caminhos para a Mudança”, de 2023, aponta que, seja na rede pública ou na rede privada, os professores sofrem de um mesmo conjunto de doenças, em que há predomínio dos distúrbios mentais, como síndrome de burnout, estresse e depressão. Afinal, ele é cobrado todos os dias. Não tem um professor que eu conheça que não esteja tomando algum medicamento contra depressão ou para dormir à noite.

Desvalorização, falta de estrutura e segurança, carga horária extensa são alguns motivos que levam aos distúrbios mentais

Depois aparecem os distúrbios de voz e os distúrbios osteomusculares (lesões nos músculos, tendões ou articulações). Além disso, outro fator que agravou a saúde do professor é a violência: a física, como as agressões e tapas por parte de alunos e pais; as ameaças; e também as resultantes de uma atividade psicossocial cotidiana, como os assédios, por exemplo, relacionados à gestão escolar. Professor se sente inseguro no seu ambiente de trabalho. Sem citar ainda a falta de estrutura em muitas unidades escolares afora.

Aliado a tudo isso, vem a desvalorização – e não é somente a salarial, mas pela própria sociedade e pelas esferas governamentais. Profissionais de diversas áreas, todos os dias, cumprem seu horário e ao fim do expediente podem chegar em casa e descansar ou assistir ao programa de TV favorito.

A profissão “professor” é uma das únicas que leva serviço para casa (corrigir trabalhos, provas, fazer planejamentos, preparar aulas e atividades, abastecer a plataforma com notas, observações e relatórios, etc). Ainda assim, para a sociedade, “professor não faz nada”. Alguns ainda perguntam: “você é só professor ou tem alguma profissão?”. Oi?

E o salário, ó!

Como jornalista, acompanhei diversas greves, das mais variadas categorias. Já fiz matérias de paralisações de médicos, enfermeiros, bancários, caminhoneiros e nunca vi xingamentos ou tamanha desvalorização a estes profissionais por parte do povo. Agora, quando professor decide parar em prol dos direitos é um absurdo o que se lê por aí.

É a primeira classe a ser chamada de “bando de vagabundos” e “que não quer trabalhar” quando decide fazer uma greve para reivindicar seus direitos. Xingamentos são proferidos, inversão de valores são propagados. O que não ocorre com outras classes trabalhadoras, como médicos, enfermeiros, caminhoneiros, que recebem apoio quando param. Eu ainda não vi falarem mal de médicos quando fazem greve, por exemplo… Agora, abaixo, a ignorância exposta em redes sociais…

 

Quando caminhoneiros pararam em 2018 por conta da alta do diesel, lá foi parte da população apoiar e ainda fazer parte da manifestação, que foi perdendo a característica ao longo dos dias. Mas o professor, que é quem ensina e incentiva crianças e jovens a darem os primeiros passos rumo à carreira profissional, não é valorizado. Isso gera desânimo e tristeza. Resulta em distúrbios mentais e doenças físicas. Termina em licenças para tratamentos médicos.

Os trabalhadores da educação precisam se unir para mostrar a essa sociedade e ao governo – que tanto os menospreza – que elas precisam do professor. É preciso mostrar que a classe deve ser valorizada, com bons salários e plano de carreira, com reconhecimento, afinal, é esse profissional que irá encaminhar e formar os jovens às profissões que sempre sonharam.

É a única profissão que ensina todas as outras profissões! Valorize!

Fotos: Divulgação

Aviao
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  • Tatiana Dornelles é jornalista, professora de Arte, escritora e fotógrafa. Especialista em História da Arte, em Jornalismo para Editores e mestre em Artes Visuais. Criou e mantém o blog Destino Mundo Afora desde 2011, bem como o canal no Youtube.
OBS: Proibida a reprodução ou utilização das imagens deste post sem a permissão da autora.

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